Felizes para sempre
- 30 de mai. de 2021
- 10 min de leitura
Atualizado: 12 de jun. de 2021
Olá, tudo bem? Sejam muito bem-vindos ao As paredes têm ouvidos. Meu nome é Ana Rita, mas vocês podem me chamar de Ana e este é o meu podcast, um espaço onde nós sabemos que sempre teremos com quem conversar.
Maio já está acabando! Nossa, passou rápido… Bom, e para encerrar o mês de maio, eu quero falar sobre o casamento no Brasil. “Mas, ué, Ana? Assim, do nada? Assim, de repente?”. Então, não é tão “do nada” como parece. O mês de maio é chamado de o mês das noivas. Desde pequena eu ouço todo mundo falando isso, porém, nunca entendi o porquê…
Acho que vamos ter que descobrir juntos. Vem comigo?
Por que maio? E por que não maio?
Bem, a escolha do mês de maio como “mês das noivas” tem diversos motivos e eu vou começar pelo climático. A tradição do casamento em maio veio para o Brasil do hemisfério norte, onde a primavera acontece entre o fim de março e a metade de junho, e o mês de maio é mais ou menos quando as flores estão mais abundantes, quando tem mais flores e as temperaturas estão amenas, ou seja, nem quente demais, nem frio demais. Outro motivo interessante é o uso das flores.
A Europa é a parte do hemisfério norte que mais influenciou a cultura brasileira, e também a mundial, e nos países europeus o inverno costuma ser muito rigoroso, muito forte. As temperaturas ficam baixíssimas, tão baixas que o costume de tomar banho no inverno era praticamente inexistente, quase ninguém tomava banho durante os meses de dezembro a março. Isso acontecia há séculos atrás e durou bastante tempo, esse hábito de não tomar banho no inverno por causa do frio.
Essa falta de banho levava a uma coisa bem desagradável chamada “mau-cheiro”. Todo mundo ficava fedido de não tomar banho e ninguém queria casar fedido! Então, a temporada de casamentos começava quando era possível colher flores e outras plantas cheirosas, com perfumes gostosos, para fazer óleos de banho, perfumes e também as decorações das festas.
Mas, eu acho que um dos motivos principais da primavera ser o tempo escolhido para os casamentos é que a primavera representa vida nova, renascer, novos começos. Ela tem uma simbologia muito bonita, os símbolos que a primavera representa são muito bonitos, então, eu acredito que por isso as pessoas gostem muito da ideia de casar em maio.
Porém, no Brasil e em todo o hemisfério sul, a primavera não acontece em maio. Ela começa em setembro e termina em dezembro. Mas, como eu disse, a Europa teve e ainda tem muita influência sobre o Brasil então, a tradição dos casamentos em maio também pegou, também se espalhou por aqui. Hoje em dia, porém, maio deixou de ser o mês mais movimentado para casamentos e as pessoas começaram a se casar no mês de setembro ou mesmo dezembro. E isso me ajuda a responder à pergunta “por que não maio?”.
Bom, primeiramente, porque a primavera por aqui acontece entre setembro e dezembro, como eu já falei. Segundamente, porque aqui nós temos o décimo terceiro salário, que é pago, normalmente, no final do ano. Consequentemente, as pessoas têm mais dinheiro para casar e fazer uma festa bem legal em meados, por volta dos meses de novembro e dezembro.
Bem, um outro motivo para maio receber o título de mês das noivas é o religioso. Segundo a Igreja Católica, maio é o mês da Consagração de Maria, a mesma Maria, mãe de Jesus, sobre quem eu falei no episódio de dia das mães. A Consagração de Maria também tem relação com a formação de uma família, é como se casando em maio, você se conectasse de maneira mais forte com Maria e assim, ela abençoasse a família que está começando, além disso tudo, a Consagração de Maria remete à, faz referência à pureza, e por falar em pureza...
Por que branco?
É senso comum, ou seja, todo mundo sabe que vestido de noiva é branco. Mas por quê? Quem decidiu isso?
Novamente, temos diversos motivos, muitos motivos para isso. Primeiro que nem sempre os vestidos eram brancos. Antigamente, há alguns séculos atrás, os vestidos de noiva eram coloridos e muito enfeitados a fim de, com a intenção de mostrar riqueza e abundância. Depois de muito tempo e de muito casamento, começaram a surgir os vestidos brancos e um deles, considerado um dos primeiros se não O primeiro, foi o da rainha Vitória. O que a história diz é que a rainha Vitória se casou por amor e não por negócios, e se a gente considerar a nobreza e todos os casamentos arranjados que eles tiveram, o casamento da rainha Vitória foi uma novidade e tanto.
O vestido branco da rainha virou um símbolo de amor e passou a ser parte da tradição de casamento. Além disso, a cor branca no ocidente é muito associada à ideia de pureza, inocência, etc. E é muito bonito pensar na pureza do amor quando ele leva duas pessoas a unirem suas vidas para formarem sua própria família.
Como é a cerimônia?
Aqui no Brasil o catolicismo, a igreja católica, é muito presente o que leva a um padrão de cerimônias de casamento. Claro que o casamento na igreja católica não é a única opção, muitas pessoas se casam dentro de suas próprias religiões e algumas escolhem ter a cerimônia com um Juiz de paz, uma pessoa que não faz parte de uma religião. Eu cresci em uma família católica e fui a muitos casamentos, então é deles que eu vou falar.
Nos casamentos que eu fui, em todos eles, o padre leu alguma passagem da bíblia que tivesse relação com a instituição “casamento”. A que eu me lembro melhor é uma que fala para as pessoas construírem suas casas, suas famílias, sobre a rocha, porque a rocha é firme e aguenta as dificuldades, etc. Essa é uma passagem muito bonita e bastante comum em casamentos. Eu concordo com ela, devemos construir um casamento, uma família, sobre uma base firme de confiança e amor. É o que eu penso.
Voltando à cerimônia. Nos Estados Unidos, por exemplo, o noivo tem um best man e a noiva tem bridesmaids. Pois bem, aqui no Brasil a gente gosta é de família grande. No registro em cartório, o registro que o governo tem, tem as testemunhas, mas não é nada demais, são apenas pessoas que testemunham que o casamento está sendo feito, etc. Agora, na igreja? Misericórdia…
Aqui no Brasil, em vez de best man e bridesmaid, nós temos padrinhos e madrinhas, or respectively, godfathers and godmothers. E em alguns casamentos cada um chama uns cinco casais para ser padrinho. Em outras palavras, a noiva chama cinco casais e o noivo também e é quase um desfile de vestidos e ternos, de tanta gente que anda pelo corredor central da igreja. Todas essas pessoas que são chamadas para ser padrinhos se tornam “responsáveis” por seus afilhados. A ideia de um padrinho ou uma madrinha é que ele ou ela cuide do afilhado, ajude a resolver problemas no casamento, seja mediador, em outras palavras, ajude o casal a passar por momentos difíceis.
Tem as floristas, que são geralmente meninas, e que jogam pétalas de flores pelo corredor, para preparar o caminho da noiva. E também a noivinha, uma menininha pequena na maioria das vezes, que usa um vestido parecido com o da noiva. A noivinha entra ao mesmo tempo que a noiva, andando na frente dela. A noivinha na frente e a noiva atrás.
Por último temos as daminhas de honra, or maids of honor, e os pajens. A daminha e pajem também são crianças, na maioria das vezes, igual à noivinha, e têm a tarefa de levar as alianças até os noivos. O costume mais comum é de ter apenas uma daminha de honra, mas pode acontecer de vir o mini-casal, daminha e pajem. Em alguns casos especiais, a dama de honra é adolescente, adulta ou até idosa, isso depende dos noivos. Eu fui dama de honra quando tinha catorze (14) anos, mais ou menos. Minha avó foi dama de honra aos oitenta (80) anos de idade.
Se você é de algum país que fala inglês deve ter percebido as diferenças culturais que nós temos com relação a “bridesmaids” e “maids of honor”, o que é bem interessante… Se inscreve no site do As paredes têm ouvidos, o link está na descrição, e entra no fórum de discussão para discutir sobre essas diferenças comigo e com os outros ouvintes, acho que seria interessante. Me contem lá sobre as experiências de vocês com casamentos, como funcionam as cerimônias de casamento no seu país? Tem festa?
Mas e aí, tem festa? Traz a coxinha!
As festas de casamento aqui no Brasil variam muito. E quando eu digo muito, eu quero dizer muito mesmo. Por ser um país cheio de misturas e sabores, o Brasil pode alcançar extremos muito facilmente. Vou explicar o que eu quero dizer.
Por aqui, as festas de casamento podem ser uma refeição full-course, pode ser um almoço reservado só com os parentes e amigos mais próximos. Pode ser também uma mega festa com balada. A balada aqui em São Paulo é o que se chama em inglês de club, um lugar onde você vai pra dançar, beber e se divertir com os amigos, e é assim que são as festas, uma bela balada, com música, dança, comida e bebida, às vezes a música é tocada por uma banda ao vivo e às vezes contratamos um DJ.
Temos algumas coisas em comum com outras culturas, como por exemplo a primeira valsa, quando os noivos dançam pela primeira vez como casados. A noiva joga o bouquet também, e é sempre uma cena e tanto, aquele monte de mulheres disputando um bouquet de flores por causa da boa e velha superstição de que quem pegar o bouquet será a próxima a casar. Eu sou um pouco supersticiosa, eu acredito um pouquinho nessas coisas, então eu sempre corri do bouquet, evitando ele a todo custo, de toda maneira, eu não queria o bouquet de jeito nenhum. Talvez hoje eu até queira, mas, eu precisaria pensar no assunto.
Outro aspecto importante das festas de casamento é a comida. Eu posso dizer até que esse é o tópico mais importante do nosso tema, afinal de contas, comida boa é outra história, it’s a different level. E aqui nós variamos, como sempre. Em alguns casamentos, são servidos o que chamamos de salgadinhos, são eles:
coxinha: massa de farinha de trigo, recheada com frango desfiado, enrolada no formato de uma gota, empanada em farinha de rosca e frita.
bolinha de queijo: receita semelhante à da coxinha, porém recheada de queijo e enrolada em formato de bola.
kibe frito: semelhante ao kibe árabe, porém em tamanho menor e frito.
empadinha: feita de uma massa chamada “massa podre” e recheada com frango ou palmito temperados.
Esses salgadinhos são servidos como aperitivos. Em algumas festas mais caras, os aperitivos variam para coisas mais leves como torradinhas e antepasto de berinjela, que costumam custar mais dinheiro do que coxinhas e bolinhas de queijo. Eu, particularmente, prefiro coxinha.
Além dos aperitivos também temos as refeições que podem ser um full-course servido nas mesas por garçons, quando se trata de uma festa menor e mais requintada, mais chique, ou então pode ser um self-service, em festas maiores, com um número grande de convidados. A segunda opção pode acontecer em festas requintadas também, dependendo do número de convidados.
Mais ou menos na metade da festa, logo depois do jantar, os noivos cortam o bolo, que costuma ser lindo, com algum enfeite gracioso, delicado, ou divertido no topo. Assim que o bolo é cortado e servido, são liberados também os docinhos e essa parte todo mundo ama. Minha família tem diversas histórias de “ladrões de docinho”, aquela sua tia, já idosa que enfia uma porção de docinhos em uma bolsa minúscula e quando vocês chegam em casa e ela descarrega a bolsinha, parece que ela trouxe a festa inteira, capaz de sair até o DJ de dentro da bolsa da mulher. É chocante.
Alguns dos docinhos mais típicos de casamento são:
Bem-casado ou casadinho: a massa é parecida com massa de bolinho, recheada com doce de leite, normalmente. O formato é parecido com o de um macaron. Geralmente, é servido embrulhado em papel crepom com uma fita de cetim.
Camafeu de nozes ou simplesmente camafeu: é um doce feito à base de nozes e leite condensado e manteiga, coberto com fondant.
Outros doces bastante tradicionais são o bombom de chocolate recheados com licor e as trufas de chocolate recheadas com cremes de vários sabores, como morango ou maracujá. O importante é que tem bastante comida, vários docinhos deliciosos e de tanto comer a gente mal consegue dançar. Mas, a gente dança mesmo assim.
Eu esqueci de falar no começo, mas as festas de casamento aqui no Brasil costumam acontecer à noite, principalmente as que têm balada. Por algum motivo, os casamentos acontecem às dezoito horas, ou seis da tarde, na igreja e depois todos seguimos para o salão de festas onde vai acontecer a comilança e as danças.
Fábrica de casamentos
Toda a organização das festas é feita por um buffet de casamentos, uma agência que organiza e executa tudo o que você quer no seu casamento. Você contrata a empresa, discute com os organizadores sobre cores e decorações, comidas e o tamanho do bolo, e eles fazem tudo pra você. Até aqui, nada de novo, no mundo todo existem essas agências de planejamento, os buffets de casamentos.
E aqui no Brasil existe um programa de televisão chamado Fábrica de Casamentos, onde é mostrado o processo do casamento. Claro que nem sempre é igual aos casamentos que eles produzem no programa, mas chega bem perto da realidade do brasileiro comum… Mais ou menos. Eu indico que vocês assistam esse programa, caso estejam curiosos sobre os casamentos brasileiros.
Mas e hoje?
Atualmente, maio já não é mais o mês número um de casamentos, como eu disse, dezembro está mais em alta, está mais movimentado para casamentos. Com a presença da pandemia o setor de buffets de casamento acabou perdendo movimento, obviamente, mas como com brasileiro para tudo se encontra um jeito, também encontramos uma forma de casar sem causar aglomeração. Recentemente eu tenho visto bastante na televisão as entrevistas com pessoas do ramo de casamentos, quais as adaptações que foram feitas para conseguir casar com saúde. Muitos falam em casamento por plataformas de reunião online, outros fizeram seus casamentos apenas com a presença das pessoas mais próximas, como pais e irmãos, etc.
O importante é conseguir realizar o sonho de se casar de forma saudável e segura. Portanto, usem máscara, lavem as mãos e vivam seus felizes para sempre!
Para encerrar o episódio de hoje, eu pedi a uma amiga minha que falasse um pouco sobre o que ela quer no casamento dela. Fiquem com o depoimento da Amanda.
“Oi, pessoal, meu nome é Amanda, e eu sou amiga da Ana. Bom, sobre o casamento que eu gostaria de ter, eu penso em uma cerimônia pequena e simples, reunindo os familiares e os amigos mais próximos.
Eu penso em uma cerimônia celebrada por um Juiz de Paz, ou Justice of the Peace, JP, ao ar livre, no campo, no começo da tarde. Eu penso em usar um vestido que faça com que eu me sinta confortável, faça com que eu me sinta bem e além de me sentir confortável e bem, eu quero muito poder me divertir.
Eu quero poder conversar com todo mundo, comer, beber, dançar, cantar, tirar fotos e aproveitar. Eu quero poder oferecer pros meus convidados uma comida boa e simples, pra todo mundo ficar de barriga cheia e bem feliz e eu também. Eu quero poder também escolher músicas divertidas, músicas animadas, músicas que eu e meu noivo gostamos muito e que representa quem nós somos, porque o mais importante nesse dia é fazer com que ele seja um dos melhores da nossa vida.”
Então é isso, pessoal. Esse foi o nosso episódio de hoje de As paredes têm ouvidos. Me sigam nas redes sociais, @ParedesPodcast e não se esqueçam de visitar o site do podcast para acessar as transcrições dos episódios e para se inscrever para poder acessar os fóruns de discussão. Todos os links estão na descrição. Tenham uma ótima semana, um grande beijo e tchau-tchau.




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